sábado, 26 de dezembro de 2015

Estágios Mentais



   "A purificação libertadora do homem processou-se geralmente por três estágios evolutivos: da escravidão inconsciente através da escravidão consciente, até a libertação consciente.
   A Natureza infra-humana se acha em estado de escravidão inconsciente. A lei férrea da causalidade mecânica reduz todos os seres infra-humanos a peças de máquina, autômatos  incondicionais; em todos os setores da natureza: mineral,vegetal,animal impera o absoluto alo-determinismo.
  Com o despontar da inteligência, isto é, com advento do homem, a escravidão inconsciente passou para uma escravidão consciente - e com isso se iniciou a tragédia metafísica do homem-ego. Quem não sabe que é escravo não sofre com sua escravidão; quem nasceu na prisão e nunca saiu dela, quem sequer olhou pela janela gradeada, nunca viu o azul do céu lá fora, esse é escravo inconsciente, vive na feliz infelicidade duma servidão ignorada. O homem-ego,porém, já descobriu o seu cárcere, já olhou pelas grades férreas da prisão, já conhece suas potencialidades libertadoras, mas não tem ainda força necessária para romper as grades da prisão e apodera-se da liberdade longínqua.
  No terceiro estágio de sua evolução, o homem-Eu vive sua liberdade; ultrapassa não só a infeliz felicidade da natureza inconsciente, mas também a feliz infelicidade do homem-ego consciente e entra na zona da feliz felicidade do homem-Eu pleniconsciente de sua liberdade".

Trecho de extraído de Filosofia d Arte de Huberto Rohden

             Entre a Escravidão Inconsciente e a Escravidão Consciente

  

"Meu amor, somos livres apenas para escolher a prisão onde vamos ficar". 
Elke Maravilha 

   Sim ainda somos escravos pois uma Liberdade Plena só poderá ser conquistada quando o homem atingir o grau que muitos avatares chegaram. Como disse Jesus O Cristo: "Eu e o Pai somos Um"/ "Eu sou A Verdade, O Caminho e A Vida"; ou seja unir a centelha individual com a Fonte Universal.
  Mas podemos ser conscientes delas como afirmou Elke escolher (criar) qual prisão/bolha de realidade/Matrix vamos viver. A grande maioria das pessoas vivem condicionadas pelos valores impostos vindos da religião, do meio social e da mídia.   
    Digamos que a atual sociedade (Ocidental) está, segundo os conceitos alquímicos,entre Nigredo/negro (Escravidão Inconsciente) e Albeto/Branco ( Escravidão Consciente). O terceiro estágio será de Rubedo/Vermelho (Liberdade Consciente) ou o Fogo do Espírito Santo para os cristãos.

domingo, 12 de julho de 2015

Ordem No Caos




    A palavra Caos vem do termo grego Chaos que se refere a Escuridão Inicial ou Universo sem forma. Na filosofia pitagórica, Caos é a "matéria não organizada" anterior à criação do Universo, considerada a matéria-prima ou a desordem primordial. Outra palavra de origem grega, APERION Ou Vazio também significa Caos e refere-se ao Incircunscrito e Ilimitado, Incriado, Imperfeito e Imanifestado. Há nesse "estágio" (se é que pode ser considerado como tal) o "vir a ser" ou "potencial" é equivalente às "águas primordiais" ou à "face do Abismo"do Livro do Gênesis.
   O Cosmos é então o produto do Caos/Aperion. É também denominado como PERAS ou seja: Delimitado,Circunscrito,o Universo Criado, Perfeito e Manifestado. Os antigos gregos contaram que a criação do universo se deu a partir do do Vazio ou Escuridão Inicial. Foi nessa Escuridão surgiu Eros, uma deidade da fertilidade que depois foi associada ao Amor Erótico, mas inicialmente representa o ímpeto criativo por trás da vida e da natureza. Com Eros veio Gaia, a deusa da terra, e Tartaros o deus do submundo. Gaia teve Urano e com ele teve filhos, os seres denominados Titães que deram origem aos seres humanos e o Ciclope que originou as montanhas,mares etc.

Egito Antigo e o Equilíbrio entre Ordem e Caos:


  
  Os mitos da criação de um universo que surge do corpo caótico da água está presente também na cosmologia egípcia. Ela tem o rio Nilo seu fator principal. Nas terras onde ele inundava, garantia colheitas abundantes. A região onde existia fertilidade era denominada Kemet ou Ordem (também denominada Terra Preta). A região onde o solo era infértil devido ao calor feroz do sol era conhecido como Deshret ou Terra Vermelha. Assim a associação entre aridez e Caos foi feita, pois Set,o deus do Caos,era também o deus da infelicidade e da desordem. É bem provável que Kamet estivesse ligado a Hórus que simbolizava a Ordem. A harmonia, então, alcançada quando as forças opostas Hórus e Set se mantinham em equilíbrio. Para isso, Maat entrava em cena, já que era a deusa da justiça divina e do próprio equilíbrio.

A Dualidade Entre Caos e Ordem:

    

    Se no Antigo Egito, tanto Caos como a Ordem tinham de estar em pé de igualdade sem nenhuma delas ganhar o controle sobre às custas da outra. Séculos mais tarde, o filósofo alemão  Friedrich Nietzsche afirmou o mesmo, porém usou dois deuses gregos e irmãos de personalidades opostas: Apolo como a ordem e a razão, e Dionísio como a desordem e a emoção. Para os pitagóricos, Cosmos e Caos são excludentes e não coexistindo no mesmo espaço.  Pitágoras criou uma espécie de "Tábua de Opostos" na qual se apresentam os principais pares de opostos dos quais se originam diferentes níveis de realidade:

  • Finito/Infinito;
  • Par/Ímpar;
  • Unidade/Diversidade;
  • Direita/Esquerda;
  • Repouso/Movimento;
  • Reta/Curva;
  • Luz/Trevas;
  • Bem/Mal;
  • Quadrado/Losango


Luz e Trevas se misturam?


   O conceito de "Ordem no Caos" foi um ideal pitagórico e também da Maçonaria Moderna.
"O Grande Arquiteto cria a Luz e expande-a ininterruptamente, daí concluindo-se que o mundo
não foi criado, nem sem sete dias, nem sem sete períodos...ele está sendo continuamente criado". 
Hipoteticamente, em algum momento, Luz e Trevas estavam juntas,Caos(Desordem) e Ordem estavam juntos embora uma/um não provém da/do outra/outro. Uma vez que o Cosmo é produto do Caos, nosso universo veio da Escuridão Inicial. O Cosmos é o quê? Luz? Ele não Luz ou Trevas mas um composto dos dois. A dualidade (1+1=2) o par de opostos é aquilo que dá foram ao universo e tudo que conhecemos.
  A Luz/Eros é o fator multiplicador das formas e dos seres gerando energia e calor para vida surgir. 
"A Unidade pode ser considerada a matéria primordial do Cosmos que, por diferenciação ou evolução, gera a diversidade".(Carlos Brasílio Conte/2015). Séculos antes, Platão afirmara: a Unidade gera a Pluralidade, e Aristóteles afirmou: a Pluralidade procede da Unidade. Ambas afirmativas são baseadas nos conceitos de Pitágoras e significam a mesmíssima coisa numa ótica diferente.

Metafísica Fractal:


  Dione Fortune, sob influência cabalista, diz que o equilíbrio entre opostos ou a dualidade não é eternamente linear e estática. É necessário atrito, bifurcação ou um ponto de decisão no qual surge uma nova estrutura que refaz a volta por outro caminho. Isso porque a realidade que conhecemos não é linear mas em curvas como um arco e a volta é feita por uma curva diferente da inicial. Resultando um novo equilíbrio até que outro ponto de desordem é ocasionado. A bifurcação ou ponto de decisão é conhecido como Terceira Esfera ou Binah. Talvez não só Binah mas as outras esferas da Cabala em relação à Árvore da Vida tem haver com os pontos de bifurcações ou ramificações que geram novos estados. Paulo de Tarso em sua Carta aos Coríntios diz : No presente, nós vemos como num espelho e de maneira confusa; então, veremos face a face. No presente, conheço de maneira imperfeita; então, conhecerei como sou conhecido. Um quebra- cabeças que desmontado cada peça tem forma desigual mas que unidas cada uma a parte que é do encache apresenta-se um todo harmônico.


 

sábado, 11 de julho de 2015

Fractualidade



       Aprendemos que agimos e atuamos somente numa única dimensão inteira e que há somente dimensões inteiras e que tudo é linear. O nosso conhecimento acerca das coisas é parcial, mesmo o mais graduado cientista ou o mais erudito dos filósofos não tem o conhecimento total daquilo que é alvo de sua investigação.
      Uma vez, assistindo ao programa do médium Luis Gasparetto sobre um determinado tema, algo me intrigou. Ele disse que a alma fica numa dimensão onde precisa ser "resgatada" pelo paciente e que essa dimensão é real. Tanto que uma de suas frases é : as inúmeras dimensões da alma. Até o momento,considerei que alma só separa do corpo após a morte mesmo nas tais viagens astrais. A ideia de uma alma numa dimensão diferente do corpo num estado"acordado era algo meio que estranho ou louco.
    Para o PhD, José Inácio C. Vasconcellos, a questão das dimensões quebradas é uma realidade que a fractualidade comprova e que o conhecimento humano é limitado e que sempre o ser humano aprende algo a respeito dele e das coisas. A palavra fractual vem do latim fractus,fração,quebrado. São figuras geométricas não-Euclidianas encontradas na natureza ou criadas no computador.
   Segundo o site da Wikipédia,"a Geometria Fractual é um ramo da Matemática que estuda as propriedades e comportamento dos fractais. Descreve muitas situações que não podem ser explicadas facilmente pela Geometria Clássica e foram aplicadas em Ciência,Tecnologia e Arte Digital. Ela tenta medir o tamanho de objetos para os quais as definições tradicionais baseadas na Geometria Euclidiana falham".
  "Um fractal é um objeto geométrico que pode ser dividido em partes, cada uma das quais semelhante ao objeto original". Conforme o site, a noção de fractual surgiu durante as décadas de 60 e 70 do século XX através de trabalhos feitos em computadores e pelo pioneirismo de Benoit Mandelbrot um matemático francês.

Pitágoras e os Números Irracionais:



    Bem antes de Mandelbrot utilizar computador para estudar melhor um fractal, um grande sábio grego e também matemático que viveu por volta de 580 a 500 a.C já havia despertado para a existência dos fractais, seu nome PITÁGORAS.
   Para Pitágoras, os números ditos irracionais eram também transcendentais (Pitágoras foi um místico e mago embora a História Oficial negue). "Eram portais que se abrem para os Planos Superiores". 
("Pitágoras - Ciência e Magia na Antiga Grécia" / Conte,Carlos Brasílio/ Ed. Madras). O autor cita como exemplo o n° PI que é a relação entre entre a circunferência e o diâmetro e cujo valor é:
3,145925389...ad infinitum. Nessa sequência numérica "cada novo número que surge é imprevisível, transcendendo até mesmo o conceito de infinito".( Carlos Brasílio Conte-2015)
Outro número irracional:1,628034... conhecido como número áureo é considerado "o mais irracional e transcendental de todos os números conhecidos".

A Divina Proporção





  De acordo com o mesmo autor, Pitágoras só tomou conhecimento de uma forma fractal quando passeava pelas areias desérticas da Ilha de Salmo, onde residia e deparou-se com uma concha marinha. Admirado pelas belas formas geométricas, resolveu estudá-la. Efetuou vários cálculos e medições, foi que percebeu que a concha fora "projetada" para crescer indefinidamente sem que sua forma sofresse alteração, e que isso era resultado de um padrão matemático e uma lei biológica que regula tudo que é vivo.
  Só que Pitágoras era convicto que tudo na natureza tem regência do padrão quartenário,isto é, os quatro elementos, as quatro fases da lua, as quatro estações e claro que o quadrado e seus ângulos retos. E a concha possuía linhas curvas e espirais.
  Aí veio "o pulo do gato"! Pitágoras achou um jeito de construir as espirais da concha a partir de figuras quadradas e ângulos retos colocando em uma determinada ordem progressiva. Obteve uma sequência numérica até chegar ao número 1,618... o número áureo.
  " O Número Áureo regula todas as espirais da natureza, o desenho das folhas e das flores, o crescimento populacional, progressão das ramificações de arbustos e árvores, as conchas marítimas e muito mais". Segundo Carlos Conte, o número áureo está presente nas construções de Templos da Antiguidade, na Renascença com Michelângelo Buonarroti,Leonardo Da Vinci e Rafael que "apresentam os cânone da Secção Áurea e de seus desdobramentos na espiral logarítmica".
  De acordo com o autor, a secção áurea é usada tanto nas artes plásticas como na arquitetura. Ela está presente nas formas da natureza: o crescimento do arbusto de uma árvore e seus galhos bifurcados, conchas e caracóis. Nas pétalas de flores e no corpo humano e até na galáxia. 





    



Conclusão:

   A fractualidade está em tudo desde o Macrocosmo ( galáxias) até o microcosmo ( formas naturais, animais etc) e está presente no Homem. Como dizem  os espiritualistas não somos só esse corpo tridimensional, temos outros corpos invisíveis e sutis mas não deixam de ser "dimensões" que interagem como as espirais da concha do mar. 
  Um exemplo é o pensamento. Quantas vezes "estamos" num local mas nossa "cabeça" tá bem longe. Gasparetto estava certo quando se referiu as dimensões da alma e pela frase: você está onde você se põe, podemos estar "fisicamente" num local mas nossos pensamentos e nossas emoções num outro local ou num outro tempo. "O espírito vai onde ele assopra" e para sermos o tão sonhado "ser humano integral" precisamos nos colocar onde queremos.

sábado, 16 de maio de 2015

Os principais ritos da antiguidade ( parte 2)

Os Mistérios de Ísis


   Esse sistema iniciático baseava-se no mito de Osíris e Ísis. Segundo a lenda, o Deus Seth havia esquartejado Osíris até a morte. Para que ele não pudesse reviver, Seth espalhou seus pedaços por todo o Egito. Ísis passou então a procurar e reunir todos os membros de seu marido. Entretanto, os órgãos genitais caíram no Nilo. Ao reviver o seu amado sem os órgãos, Ísis forneceu fertilidade e abundância ao Nilo. Os adeptos desses mistérios recebiam longa instrução dando veracidade eficiência a seus ritos. Eles procuravam reproduzir as vicissitudes da viagem de Osíris para a morte. Esse mito propiciava a representação do equilíbrio entre dois polos. O casal representava a batalha entre a vida e a morte. Sempre demonstrando que a vida também segue a ordem cíclica da natureza e seu renascimento. Seus ensinamentos exigiam muita disposição. As provas a que o postulante era submetido determinavam o grau de sua proximidade com a vida pós-morte. Ao ingressar nesta Escola, o iniciado era convidado a transpor os umbrais do conhecimento e rejubilar-se com a experiência  do desprendimento material. As cerimônias demandavam parâmetros e prescrições alimentares. Quem desejasse abraçar os mistérios deveria purificar-se por um período de dez dias. O candidato não poderia consumir carne e nem beber vinho. No décimo dia o neófito vestia um hábito de linho. Ao por-do-sol era conduzido ao salão central dos templos. As palavras, gestos e promessas perderam-se no tempo, tornando-se veladas por algumas Fraternidades modernas.
 Um antigo compêndio de textos escritos por Apuleio contém uma amostra dessas celebrações:
"Eu cheguei ao limite da morte,pisando no Umbral de Prosérpina. Passei por todos os elementos e depois voltei. À meia-noite vi o sol no esplendor de uma luz branca e ofuscante. E me acerquei face a face aos Deuses em cima e lá em baixo, adorando-os numa proximidade imediata"
- (Apuleio, Metamorfoses: XI-23).
  Existiam também belíssimas orações dedicadas Ísis;
  ''Tu és redentora do gênero humano para sempre. E sempre és misericordiosa, para alegrar os mortais, mostrando aos pobres, no seu sofrimento, o carinho doce de uma mãe'' -(Apuleio, Metamorfoses: XI -25).
  Esses rituais e seus desdobramentos doutrinários ofereceram diversos elementos para a estruturação do cristianismo. Este bebeu em todas as fontes da antiguidade. As formas de agrupamento, os ritos e a crença na vida após morte são heranças de diversas tradições. Isso não diminui o valor e nem a dimensão da fé cristã. Apenas comprova que movimentos de continuidades da história. Notaremos algumas permanências que serviram de base para a instituição do culto religioso da igreja cristã. No século I, a igreja primitiva não conhecia construções para o local do culto. Os seguidores de Jesus reuniam-se nas suas casas, no Templo de Jerusalém, nos auditórios e até nas sinagogas. Os cristãos costumavam realizar algumas cerimônias que evoluíram ao longo dos séculos. Mas a essência e a influência continuam!
  ''De outro lado, afirmavam que a culpa deles, ou erro, não passava do costume de reunir-se num dia fixo, antes do levantar do sol, para cantar entre eles alternadamente um hino a Cristo como a um Deus, de obriga-se por juramento, não cometer crime, mas a não fazer latrocínios, nem adultérios, a não faltar à palavra dada, e não enganar um depósito exigido na justiça. Terminados estes ritos, tinham o costume de se separar e de se reunir novamente para tomar juntos uma refeição...''
   Duas formas de rito marcavam sua vida devocional:
  - no primeiro dia da semana e pela manhã lia-se a Bíblia. Realizavam-se exortações,orações e cânticos.
 - À noite, os cristãos reuniam-se para a Festa do Amor (Ágape) que precedia a ''a Ceia do Senhor''.
   Este cenário fornece uma dimensão da proximidade dos ritos litúrgicos da Igreja Primitiva com as "Religiões de Mistério''. Sem dúvida, as correntes da antiguidade serviram de arcabouço na construção do cristianismo. Bousset e Reitznstein consideram enormes semelhanças entre as ''Religiões de Mistério'' e o cristianismo. John L. Mackenzie, em seu Dicionário Bíblico, afirma que é inegável a adoção de termos e ritos antigos . Mas é importante salientar que cada uma dessas correntes tem originalidade própria. Hoje elas proporcionam uma infinidade de informações para a reconstrução da História Antiga. Além disso, é possível traçar enormes paralelos entre as religiões monoteístas e os movimentos místicos da humanidade. Como observamos, as Escolas de Mistérios estão presentes na historiografia universal.


domingo, 10 de maio de 2015

Os principais ritos da antiguidade ( parte 1)

Os Mistérios de Mitra


 A sua representação remetia diretamente ao disco solar. A simbologia mitológica central representava a luta constante do deus Mitra contra as forças do Caos, simbolizada por um touro ( o fim da Era de Touro e o feminino sagrado). Como uma divindade solar, ele restabelecia a fecundidade degolando um touro ( o falo penetrando ). O sangue que escorria liberava a força vital ( o sangue feminino ou  desvirginar). Estes ritos eram muito populares entre os soldados romanos, por razão óbvia. Eles acreditavam que as etapas iniciáticas poderiam fornecer força e vitalidade em seus combates. Havia uma comemoração realizada no mês de dezembro que celebrava o nascimento do deus Mitra. Curiosamente ele era considerado por seus seguidores como salvador. Aliás o cristianismo bebeu na fonte do mitraismo tanto que a simbólica data do nascimento de Cristo é 25 de dezembro,coincidências não existem !

  

As Correntes Iniciáticas da Antiguidade e sua influência no cristianismo


  A Igreja Cristã floresceu em meio às atividades religiosas do povo judeu. As principais bases de sua doutrina surgiram do contato prolifero entre o judaísmo e a cultura greco- romana. As duas culturas forneceram enormes subsídios para a sistematização do conjunto dogmático cristão. Desde seus primórdios, o cristianismo conviveu com diversas outras correntes sociais e culturais da antiguidade. No bojo desses acontecimentos  ocorreram contatos com as doutrinas das Escolas de Mistérios.
  A História tradicional sempre menosprezou algumas dessas manifestações. Graças ao avanço provocado pelas interpretações historiográficas, as noções sobre sujeito e tempo progrediram. As mentalidades  e o cotidiano tornaram-se ferramentas para a compreensão das conjunturas históricas. A nova história propõe uma abordagem diferente para as relações interpessoais e sua observação avança para além das grandes datas e acontecimentos. A história coletiva substituiu a visão ortodoxa dos grandes personagens como agentes históricos. Tudo passou a ser considerado objeto da História, inclusive o homem comum.
  O auge das correntes iniciáticas aconteceu sob o domínio romano. A configuração e estruturação do poder imperial abrangeram o período de aproximadamente 509 a.C até 476 d.C. Neste espaço de tempo Roma tornou-se o centro da Idade Antiga e como tal exerceu enorme controle sobre o espaço territorial. A política do Panem et Circense (Pão e Circo) sempre delineou os caminhos daRoma Imperial.
 O império costumava ser tolerante na questão religiosa e aproveitar as crenças regionais em benefício próprio era uma de suas artimanhas políticas.
  No século III a.C. Roma incentivou enorme sincretismo no mediterrâneo ( umbanda romana !?) Foi neste período que as Religiões de Mistérios se alastraram por todo o território romano. 
A expansão dessas correntes concretizou -se graças à decadência das religiões clássicas. Essa forma de religiosidade intelectualizada era privilégio de poucos e excluía a maioria da população. Só governantes e pessoas eruditas podiam desfrutar do auxílio do panteão romano. O culto ao imperador e a preocupação com os ritos exteriores não oferecia resposta para as vicissitudes da vida comum. Por isso, as Escolas de Mistérios propunham um conhecimento diferenciado. Nesses contextos, enormes contingentes passaram a migrar para suas fileiras. Algo que as tornou extremamente populares em sua época!
  Mais tarde, com o declínio do Império Romano,o cristianismo absorveu diversos ritos e preceitos iniciáticos, adaptando-se em benefício de seu crescimento. A palavra mistério é oriunda do grego Mysterion, usada no plural para determinar um conjunto de Ritos Esotéricos. Urgia então associar esse saber ao cotidiano.
  Os grandes contingentes populacionais viviam em regiões agrárias. Sendo assim, os cultos praticados nas Fraternidades Iniciáticas utilizaram as ferramentas que estavam ao seu alcance. Eles relacionavam-se com a renovação cíclica da natureza. Suas cerimônias destinavam-se à renovação do valor sagrado do homem com a natureza e o universo. Havia, inseridos nesse contexto,diversos apelos psicológicos que preparavam seus adeptos para a transição pessoal. Seus ritos demandavam várias etapas de aprendizado.
 Esses ciclos exigiam provações nas quais,em diversas iniciações, os postulantes testavam sua fidelidade aos ensinamentos adquiridos. Através da superação de graus atingidos por mérito próprio, os postulantes abandonavam sua condição de neófitos. Passavam então a gozar da experiência transcendental de forma singular. As Escolas Iniciáticas estavam presentes estrategicamente em todo mundo antigo.As suas lições abrangiam desde assuntos facilmente compreensíveis até complexos sistemas matemáticos.
  Nos seus ensinamentos a morte fisica do ser humano reproduzia os ciclos sazonais da natureza. Este conhecimento secreto garantia ao iniciado a possibilidade do renascimento.
  As Escolas de Mistérios, através de seus tratados, forneceram subsídios para a estruturação das principais teses metafísicas da História. Seu estabelecimento possibilitou a interação entre o saber clássico e a religiosidade popular. Ao oferecer conforto e esperança, o homem continuava a travar sua mais profunda batalha: a superação da morte física!

sábado, 9 de maio de 2015

Anaxágoras

Anaxágoras


 Anaxágoras foi um filósofo grego que viveu no quinto século antes da era cristã. Ele se interessou pelo estudo das vibrações e foi um dos primeiros a utilizar o termo "Espírito" para designar a energia universal subjacente à matéria.





  "Julga-se que Anaxágoras foi o primeiro de todos os gregos a dar ao público um sistema de filosofia. Ele admitiu como primeiro princípio o infinito e uma Inteligência para organizar a matéria e com ele compor todos os seres que existem no mundo. Foi devido a esse assunto que os filósofos de seu tempo o chamaram de "Espírito". Ele não acreditava que esse "Espírito" tivesse feito a matéria do nada, mas apenas que Ele a havia organizado. No começo, disse ele, todas as coisas estavam misturadas e se mantiveram naquela confusão, até que uma Inteligência as separou e dispôs cada coisa na ordem que hoje vemos. Ovídio expressou bem esse sentimento no início de suas metamoforses.
  "Anaxágoras acreditava que não havia vazio na natureza; que tudo estava preenchido e que cada corpo, por menor que fosse, era divisível ao infinito; de modo que um agente sutil o bastante para dividir o pé de um germe poderia dele tirar partes suficientes para cobrir cem milhões de céus, sem que pudesse consumir as partes que ainda estivessem por dividir, visto que sempre restaria uma infinidade. Ele acreditava que cada corpo era composto de pequenas partículas homogêneas; que o sangue, as águas de pequenas partículas de água, e assim todas as outras coisas. A essa semelhança de partes ele chamou "homoeometria".
  "Ele dizia que na verdade não havia corpos no mundo que fossem totalmente compostos de partes homogêneas; que no capim, por exemplo, havia carne, sangue, ossos e nervos, pois os animais deles se nutrem; mas que cada corpo tirava seu nome da matéria dominante de sua composição; que, por exemplo, para certo corpo fosse dominado capim , bastaria que fosse composto de uma quantidade maior de partículas pequenas de madeira ou erva, mais de que outras coisas; e que as pequenas partículas de madeira ou erva fossem colocadas em grande número na superfície desse corpo".


sábado, 2 de maio de 2015

Reconciliando a Ciência e o Misticismo



   Aqui venho trazer um texto de um físico eminente do século XX chamado Jean E. Charon um dos partidários mais fervorosos dessa reconciliação. Em sua obra "O Espírito,esse Desconhecido'', ele dedica um capítulo aos laços que devem unir tantos cientistas quanto místicos ou ocultistas, entretanto, o termo ''espírito''  por ele empregado tem sentido de ''consciência''.

 ''Num momento que a Física é sem dúvida a mais apta a esclarecer os problemas metafísicos, os físicos, por sua parte, recusam-se há quase três séculos a ver a Metafísica penetrar em sua linguagem e em seu campo de experiências, como se esses problemas fossem indignos de conhecimento ''científico''; como as questões que foram temas da Metafísica não fossem, a final de contas, aquelas para quais o Homem deseja mais avidamente encontrar elementos de resposta. Podemos logo perguntar se os temas principais da Metafísica têm qualquer relação com os problemas da vida e da morte,a alma e o corpo, o problema de Deus, todos esses objetos tradicionais de investigação da Metafísica têm qualquer relação com os problemas estudados na Física? A resposta a essa pergunta será afirmativa ou não, dependendo de se aceitar ou não considerar a análise do Espírito (Consciência) como objeto estudado pela Física. O problema da natureza e dos mecanismos do Espírito/Consciência é com certeza e sem qualquer dúvida o problema central de toda a Metafísica, do qual derivam todos os outros objetos de reflexão ( o conhecimento , a vida , a morte, a matéria, Deus...). A Física e a Metafísica formam, portanto, duas disciplinas complementares encarregadas de aumentar nosso conhecimento do Universo se e somente a Matéria e o Espírito forem inseparáveis nos métodos de pesquisa e nas linguagens desses dois ramos do conhecimento.

  "Ora, como poderíamos razoavelmente recusar à Física alcançar o progresso por meio de uma análise não só da Matéria, mas também do Espírito?  Uma vez que as pesquisas dos físicos se voltam para coisas menores ou também para coisas maiores, para aquelas misteriosas partículas que formam a essência da Matéria ou ainda para o nosso Universo em seu conjunto, a palavra de Santo Agostinho torna-se hoje ou ainda mais verdadeira: "o mundo é de tal ordem que nos parece feito de coisas que não aparecem". E Theilhard De Chardin observou igualmente que ''chegando ao extremo de suas análises, os físicos não sabem muita coisa sobre a estrutura que eles alcançam e a essência da Matéria que eles estudam ou o reflexo de seu próprio pensamento''. Nesse caso como não reconhecer uma evidência atual que o Espírito faz parte integral do domínio da pesquisa da Física, assim como a Matéria, se não há descrição possível da Matéria que não faça intervir em primeiro plano, os mecanismos estruturais de nosso próprio Espírito (Consciência)?"

sábado, 25 de abril de 2015

Templo

   

    Desde a Antiguidade, os homens consagraram lugares à comunhão com a Divindade. Esses lugares eram para eles santuários nos quais Sua presença podia manifestar. Em Roma, tais locais eram reservados à interpretação dos sinais divinos próprios para guiar os homens denominados "augures" ; que usavam um bastão que terminava numa cruz para delimitar no céu o espaço que servisse para suas observações. Erma sobre tudo observado o voo dos pássaros dessa zona denominada "templum" que eles interpretavam as respostas divinas. Desde essa época, o vocábulo "templum" ou "templo" tem sido usado para designar todo o espaço ou edifício consagrado à comunhão com a Divindade , e mais genericamente, todo lugar de contemplação. Na Roma Antiga todo espaço consagrado era também denominado "fanum" que significa, literalmente, "lugar consagrado". Foi desse vocábulo "fanum" que proveio o termo "profano" que designa aquilo que se encontra no exterior de um templo. Por extensão, esse termo foi em seguida aplicado à pessoa que não era iniciada nos Mistérios do Templo.
   Na Antiguidade, os templos eram considerados réplicas terrestres do mundo divino e correspondiam  as mais das vezes a uma inspiração divina . Por exemplo, o templo de Jerusalém foi estabelecido segundo uma visão divina revelada a Davi, os cambojanos atribuem a construção do templo de Angokor-Vat a Indra e a Vishavakarman. Reflexos dos arquétipos celestes e sínteses do macrocosmo, os templos representavam também as portas de acesso à Luz Divina. Ademais, sua orientação em relação aos pontos cardeais sempre foi determinante, pois traduz uma relação entre a ordem cósmica e a ordem terrestre, entre mundo divino e o mundo humano. Segundo um antigo costume, a entrada de um templo está geralmente situada  a Oeste ou Ocidente, de frente para O Leste  ou Oriente de onde irradia a Luz.


segunda-feira, 9 de março de 2015

Dualidade de Deus



  Este é texto baseado no original do professor e escritor Flávio Vassoler muito interessante pois fala do mal e a dualidade divina buscando  sua fonte na visão do filósofo Santo Agostinho.
   Agostinho de Hipona antes de se converter e virar santo gostava de tomar um bom vinho usando as sapatilhas das cortesãs como taças. Após conhecer o deus cristão passou investigar as contradições existenciais de um Deus que é infinitamente bom, onisciente, onipresente e um mundo criado por esse Deus seja dominado pelo mal.
   "Quem me criou? Não foi meu Deus que é bom, e é também a mesma bondade? De onde veio então o querer eu o mal e não querer o bem? Seria para que houvesse motivo de eu ser justamente castigado? Quem colocou em mim e quem semeou em mim este viveiro de amarguras, sendo eu criação do meu Deus tão amoroso?
Se foi o demônio quem me criou,de onde ele veio? E,se, por uma decisão de sua vontade perversa,se transformou de anjo bom em demônio, qual é a origem daquela vontade má com que se mudou em diabo, tendo sido criado anjo perfeito por um Criador tão bom?"
  Segunda a tradição espírita sendo Deus o princípio de tudo que é bom, infinita sabedoria, toda bondade, toda justiça nada possa produzir que seja mau e injusto. O mal que se observa não pode está Nele.
Segundo essa mesma doutrina é impossível a figura de um ser maquiavélico tão poderoso que possa rivalizar com o próprio Criador. Neste caso haveria duas potências rivais em briga pela domínio da Terra e todo o universo, embora na visão do Zoroastrismo há um eterna dualidade entre Ahura Mazda ( deus supremo criador de todo o universo) e Ahrimam responsável por todos os males. Muitos são os pesquisadores de religiões que afirmam que tanto o judaísmo, cristianismo e posteriormente o islamismo herdaram essa tradição da dualidade divina.
  Voltando a questão do mal segundo a doutrina kardecista, a origem desse mal está em duas categorias: os flagelos naturais e os males que o homem pode evitar. Sendo esses flagelos não podem ser compreendidos pelo homem pois ainda apresenta certas faculdades restritas e que ainda não compreende os desígnios de Deus. Neste caso o homem não tem ainda uma visão panorâmica de toda suas vidas pregressas, apenas uma visão turva da vida corpórea atual. Por isso que certos males que parecem ser obra do destino têm suas origens, em maioria, numa existência anterior. Todavia nem toda provação consiste numa vida pregressa, segundo o próprio Espiritismo, esse é um planeta de provas e expiações e muitas dessas provas são consequências da existência atual como oportunidade de crescimento para a pessoa.
  Flávio Vassoler coloca que Santo Agostinho estabeleceu uma gradação do que é sumamente bom, no caso, Deus e o que é bom, ou seja,a natureza, a gente toda a criação. Sendo que esse bom pode ser corrompido . Se fosse absolutamente, as pessoas, boas seriam incorruptíveis. Como aconteceu com  Lúcifer, apesar de ser o mais belo dos anjos, era bom não absolutamente bom.(baseando na visão cristã). A tradição católica- protestante, de acordo com Vassoler, vai interpretar tal gradação como algo pertencente ao seres humanos apesar de Cristo de tido " Vós sois deuses".Vassoler também diz que a "tradição espírita - a bem dizer, a tradição reencarnacionista, que transcende o cristianismo e dialoga, por exemplo com o hinduísmo e o budismo - apreende um movimento do que é bom para o que é sumamente bom. O que é bom conteria em si a potência daquilo que já sumamente bom em ato."
  O mesmo coloca " mal cometido pelos homens e mulheres , de uma forma ou outra, seria oriundo de Deus, o Criador. Católicos e protestantes poderiam falar sobre livre-arbítrio, sobre a escolha de Adão e Eva fizeram entre o bem e o mal, tanto o bem quanto o mal tinham que possuir substância, isto é, tanto o bem quanto o mal precisavam existir. Se ambos existiam, provinham do Criador. Assim o mal teria sua origem em Deus".
  A ótica de Vassoler pode assustar e até indignar muitos espiritualistas, mas em Filosofia os questionamentos são bem-vindos. Esse texto tem a função de reflexão, de questionamento sem impor verdades absolutas mas abrir para um diálogo possível.




quarta-feira, 4 de março de 2015

Sincronicidade

Fonte: Revista O Rosacruz- 3°Trimestre de 2003.

   O significado da palavra"sincronicidade" dá ideia de fatos ocorridos coincidentemente em determinado tempo. São denominados coincidências que se manifestam em muitas ocasiões dentro da vida de uma pessoa. Alguns referem-se a esses fatos como mera sorte ou uma simples coincidência. Para outros, entretanto, a percepção é outra, isto é, para esses algo de marcante está acontecendo e sobre esse fenômeno Carl Jung chamou de "sincronicidade".
    É interessante notar que nos dicionários mais antigos, o vocábulo não existe.Demonstra que a preocupação do seu significado é atual. O homem de hoje desperta para algo que vai além dos fatos de seus cinco sentidos.
  Certamente a maioria das pessoas possui narrativas aonde acontecimentos aparentemente involuntários ocorridos simultaneamente e que as salvaram de algum acidente ou situação crítica. Muitas pessoas relatam que em determinado dia se atrasaram para pegar a condução ou no dia do embarque de avião,trem, ônibus e pouco depois souberam que aquele veículo o qual tomariam sofreu um acidente com vítimas e possivelmente com mortes.
  Eis então um fato que é comum nesses casos: um imprevisto mudou uma situação que deveria ter ocorrido(carma, destino, a mão de Deus?) Outras histórias com final feliz também ocorrem diariamente para muitos numa demonstração da existência da sincronicidade (esta autora passou por algumas bem felizes), entretanto passam desapercebidas.
  Jung,estudando os fenômenos de sincronicidade, desenvolvendo-os como coincidência significativa, perguntava-se "Quais são as condições psicológicas internas, tanto conscientes quanto inconscientes, para que nossa experiência externa seja afetada de maneira tão inesquecível e transformadora? A resposta parece estar com o psicólogo estadunidense, Robert Hopcke, ao afirmar que o termo coincidência é uma sequência de fatos que acontecem proximamente, que são ligados uns aos outros e que são relacionados entre si pelo acaso través de uma similaridade notável.
  Quando dizemos que algo é significativo para nós, quase sempre estamos querendo dizer que esse algo tem importância para nós por causa de certos valores que carregamos ou que esse mesmo algo nos causou um impacto significativo e afetou nossas vidas de certa maneira. Portanto, um evento com uma ação sincrônica é uma coincidência que carrega um significado subjetivo para a pessoa envolvida.

Eventos Sincrônicos

  Eventos sincrônicos se aplicam a uma larga escala de coincidências significativas. Em algumas, a extrema improbabilidade e o fantástico paralelo entre o estado interior do evento e a ocorrência externa pode ser uma característica notável. Em outras coincidências significativas, pode levar mais tempo até que o significado do que aconteceu torna-se claro ou desenrolar através do tempo. Em alguns relatos, o acontecimento externo ocorre antes e o significado interior vem após. Em alguns, afirma Hopcke, a coincidência significativa se passa entre uma imagem interior,um sonho, por exemplo, e um acontecimento externo subsequente.
  Em todos os casos desse tipo de evento, contudo, o princípio de ligação entre o interior e exterior é o significado para as pessoas envolvidas.
 Mesmo que a história da humanidade esteja cercada de eventos sincrônicos que mudaram seu curso, a grande contribuição de Jung foi sua observação de que o ponto de convergência especial de acontecimentos e o estabelecimento quase sempre, têm características distintas:
  1. Estão ligados pela casualidade;
  2. São acompanhados de uma profunda experiência emocional;
  3. O acontecimento é de natureza simbólica.
   Hopcke acrescenta um quarto item afirmando que essas coincidências ocorrem em momentos de importantes transições em nossas vidas.

Causa e Efeito

   Culturalmente somos acostumados a pensar em termos de causa e efeito, o que é uma parte tão elementar da nossa mentalidade ocidental que nem apercebemos disso. A "ocorrência simultânea de dois eventos significativos, porém não ligados pela causalidade" desenvolvida por Jung é até hoje difícil de aceitar exatamente porque a sincronicidade nos força, no que diz Hopcke, a sacudir a tirania da teoria de causa e efeito. Nessa visão de mundo causal, estamos limitados somente pelas consequências de nossos atos, devemos então agir livremente.
   Pensar diferente, principalmente da maneira como a sincronicidade sugere a fazer, é abraçar a ideia de que eventos do acaso podem ser significativos em vez de ser sem sentido. De um modo geral, essa ideia pode ser um duro golpe em nosso ego, desafiando a visão de complexo de poder e controle consciente que criamos para nós mesmos. Já em culturas não ocidentais,os indivíduos tendem a ver a humanidade como uma parte de um grande todo no qual tudo na vida é conectado. Os asiáticos não percebem suas ações como uma causa produzindo um efeito, não como uma pessoa atuando sobre o mundo, que é separado e objetivo, porém como parte de uma teia interligada e subjetiva. agir dentro desta visão de mundo é um processo humilde e cuidadoso.
  Essa maneira de pensar, na qual sua experiência objetiva de interligação com o mundo é mais importante que o controle individual sobre o meio ambiente através de causa e efeito é um modo de viver que se adapta à realidade do acaso significativo. Admitir conexões não casuais entre acontecimentos significa também reconhecer que o mundo físico não está separado dos acontecimentos psíquicos interiores. Porém a divisão entre mundo interno e externo está tão profundamente arraigada em nosso pensamento que a maioria das pessoas sequer tem consciência disso. Sincronicidade sugere que nossa divisão radical entre "interno" e "externo" é,na verdade,falsa.
  A teoria de causa e feito necessita de fatos "antes" e "depois" que estão intimamente ligados ao tempo. Ao desafiar nossa ilusão de controle total das situações e eliminar a divisão entre realidade subjetiva e objetiva, a sincronicidade também interfere na forma como confiamos numa noção linear de tempo para organizar nossa visão de mundo. A sincronicidade nos convida a olhar para nossas vidas de um novo ângulo.

Realidade Emocional

  Hopcke toma emprestado o termo "numinosidade" de Rudolph Otto para dizer que "é aquela experiência que temos quando sentimos que estamos inegavelmente ,irresistivelmente e inesquecivelmente na presença de Deus".  Há uma elevada qualidade de sentimentos provocados por uma sincronicidade, a numinosidade e energia psíquica que ela desperta é o agente através do qual é feita a conexão, nos levando a questionar a visão ocidental da objetividade e valorizar os sentimentos tanto quanto os pensamentos. Sentir significa ser vulnerável e vulnerabilidade é uma experiência de submissão, nos ensina Hopcke. Não uma submissão diante de um poder terreno ou algum deus punidor, mas diante do Cósmico.

"Experiências  com eventos sincrônicos e sonhos, podem enriquecer e aprofundar nosso sentido de humanidade e percepção de conexão com todos os seres viventes e com o Universo."

Simbolismo

  Uma mesma experiência de sincronicidade pode ser extremamente significativa para uma pessoa e não representar absolutamente nada para outra, e isso porque um acontecimento de sincronicidade é sempre carregado de simbolismo.
  Um símbolo muitas das vezes é um mistério e, os eventos sincrônicos funcionam, como todo símbolo, fazendo o inconsciente torna-se consciente. Prestando atenção em fatos externos, extraordinária ocorrência do "acaso" pode ter significado imediato para as pessoas mais atentas .
Psicológica, emocional e simbolicamente fazemos o que sempre se faz com as histórias, permitindo que signifiquem algo, que causem impacto enfim que nos provoquem uma mudança.
  Segundo diz Hopcke, o aspecto mais essencial e evidente da sincronicidade é a vivência do significado em cima do qual essa coincidência se baseia e o fato de recebemos, num acontecimento sincronistico único e que não se repete, um lembrete sobre uma importante verdade: que nossas vidas são organizadas, conscientes ou inconscientemente da mesma forma que uma história, qua nossas vidas têm coerência, direção, uma razão de ser e também de beleza. Sincronicidade nos lembra quanto as histórias de nossas vidas podem ser obras de arte.

 Nossas vidas estão cheias de eventos sincrônicos mesmo que não damos a devida atenção. Talvez por causa do constante estresse e ansiedade que vivemos nesse mundo contemporâneo. Com nossas cabeças cheias de preocupações e devido o conceito de separação de mundo objetivo e mundo subjetivo. Mas uma vez passando pela experiência sincrônica, descobrimos que muita coisa ainda está por baixo iceberg, isso se tivemos olhos para ver e ouvidos para ouvir.   


 

domingo, 1 de março de 2015

Dionísio e o abismo interior.

 
Fonte: Revista Vida Simples -Março 2015, baseado no texto de José Francisco Botelho.

   Dionísio meio irmão de Apolo, filho de Zeus com uma mortal. Deus do vinho que rodou meio mundo e ensinando aos homens os prazeres da embriaguez. Um mito que fala sobre escapar dos limites impostos por nós mesmos, contemplando nossas dificuldades sem o desespero, que a final faz parte do jogo da vida.
   Assim como Apolo, sua concepção foi através de uma pulada de cerca do todo poderoso Zeus com uma mortal, Sêmele, princesa de Tebas. E como de costume, Hera, a eterna esposa corneada e ciumenta, logo tratou de dar um fim na atual amante do seu infiel marido: mandou a alma da jovem Sêmele para as profundezas do Hades, reino subterrâneo onde os mortos passavam a eternidade.
Zeus conseguiu salvar o menino das garras de Hera entregando o bebê para Hermes, o malandro mensageiro do Olimpo que acobertava todas as escapadas do poderoso dos deuses olímpicos.
  Hermes entregou a criança nas mãos das Nisíades,ninfas solitárias e bondosas que aceitaram a cuidar do pequeno Dionísio. Elas habitavam as encostas do Monte Nisa ( por isso o nome Nisíadas) um lugar remoto e selvagem.
  Dionísio cresceu livre pelos bosques, dizem que se vestia de menina para escapar da fúria de Hera. O deus logo ganhou a admiração de sua avó Reia, uma antiga deusa e muito sábia que profetizou que o jovem Dionísio teria seu lugar ao Olimpo mas seria através de meios obscuros. E por isso entregou-lhe uma ametista. Depois de certo tempo, o rapaz começou entender a função daquele precioso amuleto.
  Aquilo ficou na cabeça do jovem deus que se sentia um príncipe renegado. Como ser um deus do Olimpo já que outras divindades já haviam ensinado vários ofícios ao homens? O que ele poderia oferecer?  Dionísio sentia uma certa inveja de Apolo já que este último ainda moço contava com templos e altares em todas as cidades gregas, celebravam como patrono de tudo que é belo, ordenado e harmonioso e além do mais era o queridinho de Zeus. 
  Num misto de raiva e superação, Dionísio se transformou no oposto de Apolo. Enquanto o luminoso Apolo andava cercado de elegantes divindades das artes e das ciências denominadas Musas, Dionísio se juntou a um bando de de sátiros- seres que habitavam os bosques metade homem e metade bode, preguiçosos e fanfarrões. 
 Num belo dia, junto com seus amigos esquisitos, Dionísio avistou uma trepadeira cheia de frutos roxos, uma serpente sugava os cachos. Ao fugir para bem longe, o réptil rastejava em ziguezagues  mais tortos que o costume. Foi aí que o rapaz teve uma súbita intuição.
  Com um objeto perfurante, fez um buraco no chão e começou a enchê-lo com as frutinhas recém - descobertas . Chamou os sátiros para ajudar a pisotear a primeira vidinha que se tem conhecimento. Precisou de apenas uma tarde para se ter um bom vinho e naquela noite ele e seus amigos encheram os longos chifres de carneiro que carregaram e trataram de entornar a bebida recém- inventada. Logo Dionísio compreendeu a função do amuleto dado por sua avó: na antiguidade, acreditava-se que a ametista anulava os efeitos do álcool. Enquanto seus amigos se embriagavam, Dionísio continuava a beber sem sentir tontura alguma. 
    No poema Dionisícas, do século 4 a.C., o autor grego Nono de Panópolis descreve o início da primeira farra etílica do mundo, com detalhes bem picantes: " Dominados pela bebida enlouquecedora, um sátiro agarrou uma moça solteira pela cintura e, levantando seu vestido, acariciou suas coxas rosadas. Outro, segurando a tocha na mão esquerda, ergueu a direita para o seio intumecido de uma de uma donzela." Bem melhor que 50 tons de cinza.
    Na manhã seguinte o mundo havia mudado, Dionísio descobriu o poder da sua criação, tinha uma grande arma em suas mãos. Colocando na própria cabeça uma coroa de vinhas, ergueu um chifre aos céus e gritou: "Despejarei sobre o mundo rios de vinho e colocarei o prazer imediato no coração dos homens: até aqueles que lamentaram a perda de seu filho, de um pai ou de um amante poderão se livrar da dor por um momento, com alguns goles de minha porção. Admita, Apolo,eu o derrotei! Eu sou o maior dos deuses!"
    Depois disso, o deus saiu pelo mundo e ficou conhecido como o maior viajante da mitologia: da Península Ibérica até a Índia, todos passaram a adorá-lo. Sua popularidade era tão grande que nem Hera ousou ameaçá-lo. E assim Dionísio com seu jeito andrógino, coroado de uvas, segurando um chifre transbordante chegou à morada dos deuses sem ser impedido por nenhum deus. Apenas sendo fitado sério por seu irmão Apolo. 


A bebida metafísica:

    




O Vinho de Dionísio é uma metáfora para algo mais vasto e onipresente que os efeitos do álcool: o deus penetra do olimpo não apenas da embriaguez,mas de tudo aquilo que tira o ser humano às convenções de sua época e lugar ( há fontes que colocam as origens do carnaval nos cultos a Dionísio). Por isso os gregos o chamavam também de Eleutherios - o Libertador.
   Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, a existência humana é uma eterna oscilação entre dois polos que, embora opostos, são complementares: o apolíneo e o dionisíaco. Apolo é o responsável pela ordem: separa o humano da natureza e delineia as fronteiras que fazem cada um de nós indivíduos. Então vem Dionísio com seu sorriso fanfarrão e ergue por um instante o véu racional que encobre a verdadeira face do mundo - livres das convenções, percebemos que o mundo humanamente ordenado é uma miragem. A bênção de Dionísio é podermos contemplar nossa dissolução sem desespero, mas com uma espécie de alegria trágica: pois para Dionísio, a morte é parte da vida e não o contrário. O véu é novamente abaixado e segue a existência normal, os irmãos olímpicos seguem se encarando por uma mesa, numa trégua delicada. Enquanto os dois se observam, vamos vivendo. "O ser humano é uma corda", escreveu Nietzsche em Assim Falou Zaratustra, "uma corda estendida sobre o abismo"( O bêbado e a equilibrista). Apolo é a corda por onde vamos andando,
(a equilibrista); Dionísio é aquele estranho prazer que nos apunhala a olhar para abaixo, o abismo, 
(o bêbado). Dionísio nos permite entrar na nossa própria embriaguez e assim nos libertamos, temporariamente, dos limites impostos por nós mesmos.  



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Energia

 

   Um tema que está sendo muito comentado tanto no meio espiritualista e científico é a questão da Energia. Sobre o tema, transcrevo aqui alguns parágrafos de um livro onde a autora desenvolve a partir tanto da visão do filósofo grego Heráclito e de Jung.
   "Não faz muita diferença se examinamos os processos da natureza, exploramos antigas filosofias de vida, estudamos astrologia ou tentamos outras formas de introspecção,pois sempre deparamos com inúmeras leis fundamentais da vida. Na situação presente, a lei principal é que nada permanece em seu estado original. Heráclito já havia formulado, em tempos passados, a enantiodromia,que significa, de forma aproximada, tudo posteriormente se transforma em seu oposto. A esse respeito, Jung afirmou que tudo que é humano é relativo porque tudo se apoia em antíteses internas que são formas de energia. "'A energia se apoia necessariamente num contraste preexistente sem o qual nenhuma energia seria possível. (...) 
De inicio precisamos ter o alto e o baixo, o quente e o frio etc, antes que aquele processo de ajuste conhecido como energia possa ocorrer. Toda vida é energia e, por tanto, apoia-se na oposição . O objetivo não é transformar um valor em seu oposto, mas manter ambos os valores como são ao mesmo tempo em que se reconhece o contraste entre eles"'.
 (...) Se não existisse o '"ruim"', seria impossível apreciar o "'bom"' pois não haveria  oportunidade de se comparar os dois. "'Pois apenas pela intensidade da escuridão, os raios de luz podem se tornar visíveis em toda sua intensidade. A claridade e a escuridão compõem um dia e o bem e o mal constituem um ser humano.''' Jung também afirma,corretamente,que quando alguém mostra às pessoas seu lado escuro, elas sabem que ele deve ter um lado claro, e este, que está a par ao mesmo tempo de seus lados escuro e claro, enxerga-se de dois ângulos  a partir do meio. Percebe que a claridade e a escuridão se somam para constituir o mundo. Se alguém se identifica com apenas um dos opostos, o bom ou o ruim, a qualidade com a qual não se deseja ser identificado é evocada exatamente com a mesma força - se não na mente consciente , na inconsciente. Sempre que um indivíduo decide ser apenas bom, sua abordagem se torna unilateral. Não há nada de errado, naturalmente, com a '"bondade"' em si mesma, mas sendo severo, de maneira consciente, com seu comportamento, ele desperta uma força inconsciente - a maldade que se recusa conhecer  - e este fato, conforme é comum em tais casos de repressão, atua no sentido de compensar ou mesmo destruir aos poucos a maneira de ser conscientemente escolhida mas unilateral. Toda forma de dependência, seja ao álcool, morfina ou idealismo, provoca uma reação posterior. O bem e o mal formam um todo paradoxal O reconhecimento de ambos os opostos torna os conceitos de bem e mal relativos e esta relatividade é aplicável a todos os componentes da existência. Tudo possui dois lados e ambos os opostos estão presente ao mesmo tempo, embora um lado se mostre de maneira mais clara e portanto fique mais visível.
   A psique humana ( que é composta dos opostos "'conscientes'" e "'inconscientes'" ) luta, como tudo o mais na natureza, para atingir um equilíbrio e portanto é perfeitamente natural que uma grande ação numa parte da psique. Assim, por exemplo, grandes e positivas proezas intelectuais na consciência são com frequência seguidas por fortes reações emocionais de caráter negativo. A noção de enantiodromia - o fato de que tudo se transforma em seu lado oposto ou inverso - encontra em nossas vidas como no exemplo há pouco dado. Ambos os aspectos de uma única realidade se alternam continuamente. "'Assim no decorrer natural dos acontecimentos, efeitos positivos seguem efeitos negativos no inconsciente e vice-versa. Se a nossa fantasia produz uma imagem brilhante num momento, há uma imagem escura que se segue imediatamente após. Compete à nossa energia psíquica garantir a regulamentação mútua desses relacionamentos e mantê-los num estado de tensão viva. Pois todos esses pares de opostos devem ser ser considerados opostos não apenas em conteúdo mas também na intensidade de suas energias."'
   Relacionando este fato com a citação do Tao-te king (...), vemos que todo o princípio está contido nas palavras "'Dois geram três"'. A estrutura dos opostos (Dois) necessariamente põe em ação um terceiro fator (Três), ou seja, a energia que esses dois fatores se empenham em juntar. É essa energia (psíquica) que é assinalada na astrologia pelo conceito de quadruplicidade a as três quadruplicidades ilustram três direções distintas de escoamento desta complexa unidade de energia.
    Heráclito e Carl Jung não foram as únicas autoridades que abordaram o princípio de opostos - a ideia é importante sob muitas maneiras em muitas civilizações. Um excelente exemplo pode ser encontrado em um antigo pensamento chinês, trazido ao Ocidente por Richard Wihelm, onde é feita a tentativa de transpor os dois (aparentemente irreconciliáveis) pólos opostos na suposição que os opostos por fim se encontram. Pensa-se que duas condições, ainda que antagônicas, tornam-se compatíveis ao suceder uma à outra no decorrer do tempo, de tal forma que se transforma na outra. Esta é de fato a ideia básica do I Ching, o Livro das Mutações. O tempo é a chave para a oposição e a reconciliação."

                                                                          Do Livro Astropsicologia de Karen Hamaker -Zong/Ed. Nova Fronteira

 



segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Apolo: O deus da ilusão lúcida






   Numa revista mensal, acompanho uma coluna sobre mitos e sua jornada. Neste mês de Fevereiro,o tema é sobre o deus grego Apolo. Sempre tive uma imagem do deus como um ser sereno e intelectual, mas em se tratando de um mito grego, as coisas nem sempre são tão certas.
  Apolo, filho de Leto com o deus supremo do Olimpo Zeus. Em algumas traduções, Leto é considerada uma deusa muito diferente das demais, devido sua modéstia. Sempre gentil e afável e como toda deusa do Olimpo, muito bonita ao ponto de Zeus notar sua beleza.
   Como Zeus era o garanhão de todo Olimpo, um romance não tardou e logo Leto estava grávida. Um grande problema, visto que Zeus era infiel e tinha uma esposa mui ciumenta que sempre perseguia as amantes do marido, seu nome; Hera.
    Hera descobriu e lançou um decreto proibindo que as pessoas acolhessem ou ajudar a pobre Leto. A humilde deusa vagou durante nove meses sem que ninguém cedesse abrigo por medo de Hera. Finalmente, Leto encontrou um esconderijo na ilha de Delos, onde deu à luz a um casal de gêmeos, Apolo e Ártemi, deusa da caça.
   Apolo era o mais devotado a sua mãe embora não herdou o temperamento doce e gentil. Pelo contrário, revelou-se o mais vaidoso de todos os imortais. Um jovem temperamental e que nunca perdoava uma ofensa. Ganhara de Heféso,o armeiro dos deuses, um arco e flecha dourados enquanto sua irmã um feito de prata.
  Apolo foi atrás daqueles que negaram auxílio a sua mãe, alegando que receberam ordens de Hera,
matando-o um por um. Todos o gregos passaram então a temer suas flechas, tanto que lhe deram um apelido de "o deus que fere de longe". Quando alguém morria por um mal súbito ou uma doença misteriosa dizimava homens e animais, não havia dúvidas: o Filho de Leto estava por trás.
  Uma coisa o atormentava ainda mais: sua vaidade.Tinha necessidade de algo mais, mas não sabia exatamente o quê. Quem sabe algo que pudesse equilibrar esse seu lado assassino e vingativo. Buscou, nas profundezas do bosque, um arredio deus Pã, um hábil tocador de flauta. Bem diferente de Apolo, Pã não era um deus de grandes ambições. E de bom grado,ensinou tudo que sabia.
     O discípulo superou seu mestre, tornando-se o melhor harpista de todo o mundo antigo. Nos banquetes, esquecia toda sua ira constante dedilhando em sua lira, belas melodias.Mesmo assim, isso não coibiu sua tendência por ambições altas e logo bolava um plano para destronar Zeus do seu posto, já que se julgava o herdeiro natural. Tramou uma conspiração que falhou, Apolo foi punido. A princípio Zeus pretendia trancafiá-lo no Tártaro mas Leto intercede pelo filho. O supremo deus do Olimpo, decide por uma punição menos severa: servir como pastor durante um ano, nas terras de um mortal, o rei Admeto de Teare.
  Cuidando apenas das ovelhas, o rebelde deus passou seu tempo livre a refletir. Dessa reflexão aprendeu que até para um deus, há limites e que a grandeza em fronteiras, torna-se barbárie, loucura ou simples desperdício de energia. O próprio Zeus embora seja o rei dos deuses não era uma entidade suprema. Acima dele, estava Moira, a msiteriosa deusa do destino, envolvendo todas as coisas do universo e mais acima pairava o Caos, a única divindade ilimitada.
Por que devemos odiar nosso limites? Uma escultura só é bela devido ao limite imposto pelo escultor. Um ruído só se torna música por que ouve um acorde que molda os sons.

Luz no caos:

  A visão dos antigos gregos sobre a existência certamente influenciou os existencialistas. Temos um certo lado sombrio, pois mesmo que buscamos a harmonia o caos de vez enquanto dá sua face. Muitos espiritualistas nos dizem que há harmonia por traz do aparente caos. Talvez,ele seja necessário para a mudança e para própria evolução.
Apolo, notou isso, tanto, que após voltar de seu exílio cunhou duas frases célebres que nunca foram esquecidas, escritas na entrada do seu templo em Delfos: "Conheça-te a ti mesmo" e "Nada em excesso". Seu conselho, que mais tarde ficou conhecido pela pesquisa de Jung, é que não devemos ignorar nossas sombras, mas tão pouco deixar que elas nos dominem.
  O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche chamou de espírito apolíneo, o impulso de desafiar o cosmos e impor-lhe alguma forma, com a força da imaginação. "Se pudéssemos imaginar uma encarnação da dissonância - e que outra coisa é o homem? - tal dissonância precisaria, a fim de poder viver, de uma ilusão magnífica que cobrisse com um véu de beleza sua própria essência", escreveu Nietzsche em O Nascimento da Tragédia. "Eis o verdadeiro desígnio artístico de Apolo: sob seu nome reunimos todas aquelas inumeráveis ilusões da bela aparência que, de algum modo, tornam a existência digna de ser vivida".
  Apolo é o deus da ilusão lúcida por isso que os artistas da antiguidade o amavam tanto. Embora portasse a lira, jamais abandonou o arco. "Há um fundo selvagem em toda harmonia humana; a beleza da vida terá sempre um vago gosto da morte;e,se hoje sou o deus da luz, é porque já olhei as trevas".

                                             Fonte: Revista Vida Simples-Ed.155/Fevereiro-Mitos e Jornadas por José Francisco Botelho

 


    



  

    
 
   

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Carnaval sob uma outra ótica

                                        Introdução:

                                                                                                                                               Texto de Francisco Paulo Greter 

  Dentre essas manifestações culturais, certamente o carnaval é uma das que a humanidade inventou desde o momento em que se percebeu fazendo parte de um grupo de seres que, embora animais finitos e mortais como qualquer ser vivo, resolveram não aceitar sua mais evidente condição humana:
a mortalidade. Como fuga ou ato heroico e inventivo, resolveu criar deuses, danças, rituais, magias, celebrações e cânticos entoados ao universo, ainda que seja sua radical insignificância diante das galáxias e dos buracos-negros.
  Assim os humanos criaram o que chamamos carnaval, a festa da carne embalada pelo espírito do deus Dionísio e toda a sua orgástica orgia a desafiar a inevitabilidade da morte. E dança e canta: "Eu sei que a vida poderia ser bem melhor e será. Mas isto não impede que eu repita: é bonita! É bonita e é bonita!"( Gonzaguinha - O que é o que é?)

                              Origens e História das Festas Carnavalescas


O culto à Deusa egípcia Ísis pode fazer parte da origem do carnaval.


                                 

    O carnaval é um a festa que originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C. Por meio desta festa, os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção das colheitas. Posteriormente, os gregos e romanos inseriram bebidas e práticas sexuais na festa, tornando-a intolerável aos olhos da Igreja. Mas como o tempo, o carnaval passou a ser uma comemoração domesticada e adotada pela a mesma Igreja Católica ,o que ocorreu de fato em 590 d.C
Até então, o carnaval era uma festa condenada pela Igreja pelos rituais de canto e dança, que aos olhos dos cristãos era pecaminoso.
  Em alguns estudos, é possível constatar as raízes do carnaval em alguma orgia primitiva, que acontecia para festejar a chegada da Primavera. Outros autores postulavam que a festa teria se originado no Egito a 2 mil anos a.C., com os cultos a deusas, como ocorria com Ísis.
  Pesquisando sobre povos orientais, podemos apontar a anulação temporária das convenções sociais e das distinções que organizavam seu mundo. Entre os babilônicos havia a organização das festas anuais de verão, conhecidas como Saceias. No conjunto, tal festividade era orientada pela inversão completa das hierarquias sociais. Ao longo de um período de cinco dias, os servos poderiam incorporar os gestos e comportamentos de seus superiores.
   Outra instigante manifestação organizada durante a Saceia envolvia a escolha de algum prisioneiro para ocupar  o lugar da autoridade real. Nesse curto período, o reles detento poderia vestir as roupas do rei, comer em sua mesa e até despojar as mulheres do mesmo. Após a experiência do regalo e alegria, o pobre coitado era submetido a chicotadas e depois morto  por algum cruel ritual de execução. Tragicamente, a inversão da realidade chegava ao seu fim. Nos carnavais modernos, o rei Momo não morre ao final dos festejos...
    Os assírios também realizavam outra celebração bem próxima de algumas ações comumente observadas no carnaval de rua contemporâneo. No mês de março, os integrantes dessa poderosa civilização organizavam uma festa em tributo à deusa Ísis, divindade de origem egípcia responsável pela proteção dos navegantes. Os seus participantes costumavam utilizar máscaras durante uma procissão em que o carro transportava uma embarcação a ser oferecida para a deusa. ( Lembra algo?)
    No início da Era Cristã, a Igreja deu nova orientação a essas festividades, punindo severamente  os abusos. Entretanto, se o Catolicismo não adotou o carnaval, suportou-o com certa tolerância, já que a fixação do período de Momo gira em torno de datas predeterminadas pela própria Igreja. Tudo indica que nesse período se deu a anexação ao calendário religioso, pois o carnaval antecede a quaresma. É uma festa de características pagãs que termina em penitência, na dor de quarta-feira de Cinzas.
  Originalmente os cristãos comemoravam as comemorações do carnaval em 25 de dezembro, compreendendo os festejos de Natal e Ano Novo e de Reis, onde predominavam jogos e disfarces. Na Gália, tanto foram os excessos que Roma o proibiu por tempo. O papa Paulo II, no século XV, foi um dos mais tolerantes, permitindo que se realizassem comemorações na Via Lacta, rua próxima ao seu palácio. Já no carnaval romano, viam-se corridas de cavalo, desfile de carros alegóricos, brigas de confetes, corridas de corcundas, lançamentos de ovos e outros divertimentos.
  Em 1545, durante o Concílio de Trento, o carnaval voltou a ser uma festa popular. O baile de máscaras, introduzido pelo papa Paulo II, adquiriu força nos séculos XV e XVI, por influência da Commedia dell'Arte. Eram sucesso na Corte de Carlos VI. Ironicamente, esse rei foi assassinado numa dessas festas fantasiado de urso. As máscaras também eram confeccionadas para as festas religiosas como a Epifania ( Dias dos Reis). Em Veneza e Florença, no século XVIII, as damas elegantes da nobreza utilizavam-na como instrumento de sedução. Tais tradições momescas ainda mantêm-se vivas em algumas cidades europeias, como Nice,Veneza, e Munique.



                              O "Espírito Dionisíaco" e o Carnaval:

Apolo e Dionísio, divindades da mitologia grega. Da tensão conflitante das forças apolíneas e dionisíacas em cada uma nasce a Cultura dos povos. 

    O filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) analisou em sua obra O nascimento da tragédia no espírito da música (1871) os dois "espíritos" que estariam na base de nossa civilização. Um é  um espírito apolíneo, que e refere, na mitologia grega, a Apolo, deus da luz, da razão e da Ciência. A sua beleza nasce justamente de ordem e da harmonia, do equilíbrio, fruto do reino da Lógica e da Matemática. Seu alvo é o saber correto, a sabedoria, a justiça, o mundo das ideias claras e distintas, perfeitas, ou das leis universais que regem o universo. É o que buscavam os filósofos gregos desde o princípio e ainda é o ideal da Ciência de da Filosofia. Todavia, esse espírito do claro e distinto pode levar o homem à escravidão da razão técnica e à loucura de uma lógica que mata a vida.
   Há, no entanto, outro espírito que rege os destinos humanos, representado na mitologia por Dionísio (Grécia) ou Baco (Roma), deus do vinho, da festa, da alegria, da paixão e da tragédia, do imponderável. "Não e deixa domesticar. Vigoroso, atirado, amante da vida e dos prazeres. Não é o deus da decadência, mas da força. Não é aliado do espírito vingativo, mas criativo .....Aniversário do sonambulismo e da doença. Um clarão de alegria no semblante dilacerado do mundo destroçado pelo achatamento do homem. Dança, movimento, companheirismo. Força criativa e inventiva. Está a cata do adverso e do diferente, do único e não do uno. Por isso, mata o dogma, a verdade eterna. Despreza o acontecimento sem história, sem calor, sem cor....Dionísio ama a sabedoria sem repouso,a ação constante em busca do melhor, do mais desejado, do mais amado"(Neidson Rodrigues, Filosofia para não filósofos)
  Esses dois "espíritos" não estão separados como duas forças isoladas e estaques dentro do ser humano, mas formam a própria natureza e cultura humanas, numa relação dinâmica, conflitante, complementar, dialética. Da tensão entre esses dois espíritos é o que se desenvolve toda a vida e a cultura dos povos. Quando uma dessas forças sufoca e quer eliminar a outra, a sociedade entra num perigoso processo de autodestruição ou estagnação.
   Segundo Nietzsche, o povo grego desenvolveu toda a riqueza de sua civilização enquanto manteve Apolo e Dionísio no equilíbrio criativo, enquanto soube articular a razão, Ciência e Lógica com a tragédia, música e dança expressas nas tragédias gregas. Quando essa tensão foi rompida, a civilização helênica ruiu. Assim acontece com todas civilizações.
  As festas carnavalescas seriam a manifestação do espírito dionisíaco dentro das culturas, representado pelo deus do vinho, pela festa, pela dança, pelas orgias dos rituais permitidos nas  diferentes sociedades. Aqui estaria uma das forças do carnaval brasileiro, tão criativo, festivo, alegre, dançante, musical e colorido. Este carnaval seria a própria manifestação da formação multirracial e multicultural do nosso povo, mistura antropofágica de tantos e diferentes povos culturais. Será?

Fonte: Filosofia Ciência e Vida




                                             Carnavalizar é preciso:

                                                                                                                                    Por mim mesma


       Não sou uma amante do samba, nem adepta do carnaval, mas reconheço sua significância para o povo brasileiro. 
   Carnavalizar é preciso. Até aqueles que são anti- samba por motivos religiosos se beneficiam dos dia de folia para viajar ou descansar.
   Mesmo existindo uma espécie de divisão entre carnaval e algumas religiões (principalmente as denominações cristãs). Pude observar que muitos desfiles de Escolas de Samba do grupo A, apresentaram em seu enredo temas ligados à criação do mundo ou a própria religiosidade em si.
   A uma das Escolas que tem como o tema de seus enredos a transcendência, a Mocidade Independente de Padre Miguel levou em 1995 para a avenida o enredo com o nome do padroeiro da agremiação, que contava como se desenvolveu a religiosidade brasileira através das misturas de raças e com uma profecia sobre a capital do país.
  Em 1991 a Escola foi campeã com enredo sobre a água que mostrou  o mundo pelas águas de Iemanjá, Oxalá e Oxum. No ano passado, a Acadêmicos do Salgueiro trouxe o enredo sobre Gaia e a criação do mundo abrangendo a visão de diferentes crenças religiosas. A União da Ilha do Governador  no ano 1978, trouxe o enredo O amanhã que ficou muito famoso anos depois na voz de Simone ( A cigana leu o meu destino/Eu sonhei/O que será o amanhã/Como vai ser o meu destino?). 
Em 1989, a Escola trouxe Festa Profana que contava a origem da maior festa popular mundial e suas origens no paganismo ( Eh! Boi Apis/ Lá no Egito, festa de Ísis/Eh! deus Baco, bebe sem mágoa/É primavera!/Na lei de Roma, a alegria que impera/Oh, que beleza! /Máscara Negra no baile de Veneza)   


  
Desfile da União da Ilha em 1989












Desfile da Mocidade 1995 -Padre Miguel

  


                                             Desfile da Mocidade 1996 -Criador e Criatura



                                                 
                                                 União da Ilha 1989 - Festa Profana                                                





                                 Desfile do Salgueiro 2014- Gaia, a vida em nossas mãos.