sábado, 16 de maio de 2015

Os principais ritos da antiguidade ( parte 2)

Os Mistérios de Ísis


   Esse sistema iniciático baseava-se no mito de Osíris e Ísis. Segundo a lenda, o Deus Seth havia esquartejado Osíris até a morte. Para que ele não pudesse reviver, Seth espalhou seus pedaços por todo o Egito. Ísis passou então a procurar e reunir todos os membros de seu marido. Entretanto, os órgãos genitais caíram no Nilo. Ao reviver o seu amado sem os órgãos, Ísis forneceu fertilidade e abundância ao Nilo. Os adeptos desses mistérios recebiam longa instrução dando veracidade eficiência a seus ritos. Eles procuravam reproduzir as vicissitudes da viagem de Osíris para a morte. Esse mito propiciava a representação do equilíbrio entre dois polos. O casal representava a batalha entre a vida e a morte. Sempre demonstrando que a vida também segue a ordem cíclica da natureza e seu renascimento. Seus ensinamentos exigiam muita disposição. As provas a que o postulante era submetido determinavam o grau de sua proximidade com a vida pós-morte. Ao ingressar nesta Escola, o iniciado era convidado a transpor os umbrais do conhecimento e rejubilar-se com a experiência  do desprendimento material. As cerimônias demandavam parâmetros e prescrições alimentares. Quem desejasse abraçar os mistérios deveria purificar-se por um período de dez dias. O candidato não poderia consumir carne e nem beber vinho. No décimo dia o neófito vestia um hábito de linho. Ao por-do-sol era conduzido ao salão central dos templos. As palavras, gestos e promessas perderam-se no tempo, tornando-se veladas por algumas Fraternidades modernas.
 Um antigo compêndio de textos escritos por Apuleio contém uma amostra dessas celebrações:
"Eu cheguei ao limite da morte,pisando no Umbral de Prosérpina. Passei por todos os elementos e depois voltei. À meia-noite vi o sol no esplendor de uma luz branca e ofuscante. E me acerquei face a face aos Deuses em cima e lá em baixo, adorando-os numa proximidade imediata"
- (Apuleio, Metamorfoses: XI-23).
  Existiam também belíssimas orações dedicadas Ísis;
  ''Tu és redentora do gênero humano para sempre. E sempre és misericordiosa, para alegrar os mortais, mostrando aos pobres, no seu sofrimento, o carinho doce de uma mãe'' -(Apuleio, Metamorfoses: XI -25).
  Esses rituais e seus desdobramentos doutrinários ofereceram diversos elementos para a estruturação do cristianismo. Este bebeu em todas as fontes da antiguidade. As formas de agrupamento, os ritos e a crença na vida após morte são heranças de diversas tradições. Isso não diminui o valor e nem a dimensão da fé cristã. Apenas comprova que movimentos de continuidades da história. Notaremos algumas permanências que serviram de base para a instituição do culto religioso da igreja cristã. No século I, a igreja primitiva não conhecia construções para o local do culto. Os seguidores de Jesus reuniam-se nas suas casas, no Templo de Jerusalém, nos auditórios e até nas sinagogas. Os cristãos costumavam realizar algumas cerimônias que evoluíram ao longo dos séculos. Mas a essência e a influência continuam!
  ''De outro lado, afirmavam que a culpa deles, ou erro, não passava do costume de reunir-se num dia fixo, antes do levantar do sol, para cantar entre eles alternadamente um hino a Cristo como a um Deus, de obriga-se por juramento, não cometer crime, mas a não fazer latrocínios, nem adultérios, a não faltar à palavra dada, e não enganar um depósito exigido na justiça. Terminados estes ritos, tinham o costume de se separar e de se reunir novamente para tomar juntos uma refeição...''
   Duas formas de rito marcavam sua vida devocional:
  - no primeiro dia da semana e pela manhã lia-se a Bíblia. Realizavam-se exortações,orações e cânticos.
 - À noite, os cristãos reuniam-se para a Festa do Amor (Ágape) que precedia a ''a Ceia do Senhor''.
   Este cenário fornece uma dimensão da proximidade dos ritos litúrgicos da Igreja Primitiva com as "Religiões de Mistério''. Sem dúvida, as correntes da antiguidade serviram de arcabouço na construção do cristianismo. Bousset e Reitznstein consideram enormes semelhanças entre as ''Religiões de Mistério'' e o cristianismo. John L. Mackenzie, em seu Dicionário Bíblico, afirma que é inegável a adoção de termos e ritos antigos . Mas é importante salientar que cada uma dessas correntes tem originalidade própria. Hoje elas proporcionam uma infinidade de informações para a reconstrução da História Antiga. Além disso, é possível traçar enormes paralelos entre as religiões monoteístas e os movimentos místicos da humanidade. Como observamos, as Escolas de Mistérios estão presentes na historiografia universal.


domingo, 10 de maio de 2015

Os principais ritos da antiguidade ( parte 1)

Os Mistérios de Mitra


 A sua representação remetia diretamente ao disco solar. A simbologia mitológica central representava a luta constante do deus Mitra contra as forças do Caos, simbolizada por um touro ( o fim da Era de Touro e o feminino sagrado). Como uma divindade solar, ele restabelecia a fecundidade degolando um touro ( o falo penetrando ). O sangue que escorria liberava a força vital ( o sangue feminino ou  desvirginar). Estes ritos eram muito populares entre os soldados romanos, por razão óbvia. Eles acreditavam que as etapas iniciáticas poderiam fornecer força e vitalidade em seus combates. Havia uma comemoração realizada no mês de dezembro que celebrava o nascimento do deus Mitra. Curiosamente ele era considerado por seus seguidores como salvador. Aliás o cristianismo bebeu na fonte do mitraismo tanto que a simbólica data do nascimento de Cristo é 25 de dezembro,coincidências não existem !

  

As Correntes Iniciáticas da Antiguidade e sua influência no cristianismo


  A Igreja Cristã floresceu em meio às atividades religiosas do povo judeu. As principais bases de sua doutrina surgiram do contato prolifero entre o judaísmo e a cultura greco- romana. As duas culturas forneceram enormes subsídios para a sistematização do conjunto dogmático cristão. Desde seus primórdios, o cristianismo conviveu com diversas outras correntes sociais e culturais da antiguidade. No bojo desses acontecimentos  ocorreram contatos com as doutrinas das Escolas de Mistérios.
  A História tradicional sempre menosprezou algumas dessas manifestações. Graças ao avanço provocado pelas interpretações historiográficas, as noções sobre sujeito e tempo progrediram. As mentalidades  e o cotidiano tornaram-se ferramentas para a compreensão das conjunturas históricas. A nova história propõe uma abordagem diferente para as relações interpessoais e sua observação avança para além das grandes datas e acontecimentos. A história coletiva substituiu a visão ortodoxa dos grandes personagens como agentes históricos. Tudo passou a ser considerado objeto da História, inclusive o homem comum.
  O auge das correntes iniciáticas aconteceu sob o domínio romano. A configuração e estruturação do poder imperial abrangeram o período de aproximadamente 509 a.C até 476 d.C. Neste espaço de tempo Roma tornou-se o centro da Idade Antiga e como tal exerceu enorme controle sobre o espaço territorial. A política do Panem et Circense (Pão e Circo) sempre delineou os caminhos daRoma Imperial.
 O império costumava ser tolerante na questão religiosa e aproveitar as crenças regionais em benefício próprio era uma de suas artimanhas políticas.
  No século III a.C. Roma incentivou enorme sincretismo no mediterrâneo ( umbanda romana !?) Foi neste período que as Religiões de Mistérios se alastraram por todo o território romano. 
A expansão dessas correntes concretizou -se graças à decadência das religiões clássicas. Essa forma de religiosidade intelectualizada era privilégio de poucos e excluía a maioria da população. Só governantes e pessoas eruditas podiam desfrutar do auxílio do panteão romano. O culto ao imperador e a preocupação com os ritos exteriores não oferecia resposta para as vicissitudes da vida comum. Por isso, as Escolas de Mistérios propunham um conhecimento diferenciado. Nesses contextos, enormes contingentes passaram a migrar para suas fileiras. Algo que as tornou extremamente populares em sua época!
  Mais tarde, com o declínio do Império Romano,o cristianismo absorveu diversos ritos e preceitos iniciáticos, adaptando-se em benefício de seu crescimento. A palavra mistério é oriunda do grego Mysterion, usada no plural para determinar um conjunto de Ritos Esotéricos. Urgia então associar esse saber ao cotidiano.
  Os grandes contingentes populacionais viviam em regiões agrárias. Sendo assim, os cultos praticados nas Fraternidades Iniciáticas utilizaram as ferramentas que estavam ao seu alcance. Eles relacionavam-se com a renovação cíclica da natureza. Suas cerimônias destinavam-se à renovação do valor sagrado do homem com a natureza e o universo. Havia, inseridos nesse contexto,diversos apelos psicológicos que preparavam seus adeptos para a transição pessoal. Seus ritos demandavam várias etapas de aprendizado.
 Esses ciclos exigiam provações nas quais,em diversas iniciações, os postulantes testavam sua fidelidade aos ensinamentos adquiridos. Através da superação de graus atingidos por mérito próprio, os postulantes abandonavam sua condição de neófitos. Passavam então a gozar da experiência transcendental de forma singular. As Escolas Iniciáticas estavam presentes estrategicamente em todo mundo antigo.As suas lições abrangiam desde assuntos facilmente compreensíveis até complexos sistemas matemáticos.
  Nos seus ensinamentos a morte fisica do ser humano reproduzia os ciclos sazonais da natureza. Este conhecimento secreto garantia ao iniciado a possibilidade do renascimento.
  As Escolas de Mistérios, através de seus tratados, forneceram subsídios para a estruturação das principais teses metafísicas da História. Seu estabelecimento possibilitou a interação entre o saber clássico e a religiosidade popular. Ao oferecer conforto e esperança, o homem continuava a travar sua mais profunda batalha: a superação da morte física!

sábado, 9 de maio de 2015

Anaxágoras

Anaxágoras


 Anaxágoras foi um filósofo grego que viveu no quinto século antes da era cristã. Ele se interessou pelo estudo das vibrações e foi um dos primeiros a utilizar o termo "Espírito" para designar a energia universal subjacente à matéria.





  "Julga-se que Anaxágoras foi o primeiro de todos os gregos a dar ao público um sistema de filosofia. Ele admitiu como primeiro princípio o infinito e uma Inteligência para organizar a matéria e com ele compor todos os seres que existem no mundo. Foi devido a esse assunto que os filósofos de seu tempo o chamaram de "Espírito". Ele não acreditava que esse "Espírito" tivesse feito a matéria do nada, mas apenas que Ele a havia organizado. No começo, disse ele, todas as coisas estavam misturadas e se mantiveram naquela confusão, até que uma Inteligência as separou e dispôs cada coisa na ordem que hoje vemos. Ovídio expressou bem esse sentimento no início de suas metamoforses.
  "Anaxágoras acreditava que não havia vazio na natureza; que tudo estava preenchido e que cada corpo, por menor que fosse, era divisível ao infinito; de modo que um agente sutil o bastante para dividir o pé de um germe poderia dele tirar partes suficientes para cobrir cem milhões de céus, sem que pudesse consumir as partes que ainda estivessem por dividir, visto que sempre restaria uma infinidade. Ele acreditava que cada corpo era composto de pequenas partículas homogêneas; que o sangue, as águas de pequenas partículas de água, e assim todas as outras coisas. A essa semelhança de partes ele chamou "homoeometria".
  "Ele dizia que na verdade não havia corpos no mundo que fossem totalmente compostos de partes homogêneas; que no capim, por exemplo, havia carne, sangue, ossos e nervos, pois os animais deles se nutrem; mas que cada corpo tirava seu nome da matéria dominante de sua composição; que, por exemplo, para certo corpo fosse dominado capim , bastaria que fosse composto de uma quantidade maior de partículas pequenas de madeira ou erva, mais de que outras coisas; e que as pequenas partículas de madeira ou erva fossem colocadas em grande número na superfície desse corpo".


sábado, 2 de maio de 2015

Reconciliando a Ciência e o Misticismo



   Aqui venho trazer um texto de um físico eminente do século XX chamado Jean E. Charon um dos partidários mais fervorosos dessa reconciliação. Em sua obra "O Espírito,esse Desconhecido'', ele dedica um capítulo aos laços que devem unir tantos cientistas quanto místicos ou ocultistas, entretanto, o termo ''espírito''  por ele empregado tem sentido de ''consciência''.

 ''Num momento que a Física é sem dúvida a mais apta a esclarecer os problemas metafísicos, os físicos, por sua parte, recusam-se há quase três séculos a ver a Metafísica penetrar em sua linguagem e em seu campo de experiências, como se esses problemas fossem indignos de conhecimento ''científico''; como as questões que foram temas da Metafísica não fossem, a final de contas, aquelas para quais o Homem deseja mais avidamente encontrar elementos de resposta. Podemos logo perguntar se os temas principais da Metafísica têm qualquer relação com os problemas da vida e da morte,a alma e o corpo, o problema de Deus, todos esses objetos tradicionais de investigação da Metafísica têm qualquer relação com os problemas estudados na Física? A resposta a essa pergunta será afirmativa ou não, dependendo de se aceitar ou não considerar a análise do Espírito (Consciência) como objeto estudado pela Física. O problema da natureza e dos mecanismos do Espírito/Consciência é com certeza e sem qualquer dúvida o problema central de toda a Metafísica, do qual derivam todos os outros objetos de reflexão ( o conhecimento , a vida , a morte, a matéria, Deus...). A Física e a Metafísica formam, portanto, duas disciplinas complementares encarregadas de aumentar nosso conhecimento do Universo se e somente a Matéria e o Espírito forem inseparáveis nos métodos de pesquisa e nas linguagens desses dois ramos do conhecimento.

  "Ora, como poderíamos razoavelmente recusar à Física alcançar o progresso por meio de uma análise não só da Matéria, mas também do Espírito?  Uma vez que as pesquisas dos físicos se voltam para coisas menores ou também para coisas maiores, para aquelas misteriosas partículas que formam a essência da Matéria ou ainda para o nosso Universo em seu conjunto, a palavra de Santo Agostinho torna-se hoje ou ainda mais verdadeira: "o mundo é de tal ordem que nos parece feito de coisas que não aparecem". E Theilhard De Chardin observou igualmente que ''chegando ao extremo de suas análises, os físicos não sabem muita coisa sobre a estrutura que eles alcançam e a essência da Matéria que eles estudam ou o reflexo de seu próprio pensamento''. Nesse caso como não reconhecer uma evidência atual que o Espírito faz parte integral do domínio da pesquisa da Física, assim como a Matéria, se não há descrição possível da Matéria que não faça intervir em primeiro plano, os mecanismos estruturais de nosso próprio Espírito (Consciência)?"