quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O Carnaval sob uma outra ótica

                                        Introdução:

                                                                                                                                               Texto de Francisco Paulo Greter 

  Dentre essas manifestações culturais, certamente o carnaval é uma das que a humanidade inventou desde o momento em que se percebeu fazendo parte de um grupo de seres que, embora animais finitos e mortais como qualquer ser vivo, resolveram não aceitar sua mais evidente condição humana:
a mortalidade. Como fuga ou ato heroico e inventivo, resolveu criar deuses, danças, rituais, magias, celebrações e cânticos entoados ao universo, ainda que seja sua radical insignificância diante das galáxias e dos buracos-negros.
  Assim os humanos criaram o que chamamos carnaval, a festa da carne embalada pelo espírito do deus Dionísio e toda a sua orgástica orgia a desafiar a inevitabilidade da morte. E dança e canta: "Eu sei que a vida poderia ser bem melhor e será. Mas isto não impede que eu repita: é bonita! É bonita e é bonita!"( Gonzaguinha - O que é o que é?)

                              Origens e História das Festas Carnavalescas


O culto à Deusa egípcia Ísis pode fazer parte da origem do carnaval.


                                 

    O carnaval é um a festa que originou na Grécia em meados dos anos 600 a 520 a.C. Por meio desta festa, os gregos realizavam seus cultos em agradecimento aos deuses pela fertilidade do solo e pela produção das colheitas. Posteriormente, os gregos e romanos inseriram bebidas e práticas sexuais na festa, tornando-a intolerável aos olhos da Igreja. Mas como o tempo, o carnaval passou a ser uma comemoração domesticada e adotada pela a mesma Igreja Católica ,o que ocorreu de fato em 590 d.C
Até então, o carnaval era uma festa condenada pela Igreja pelos rituais de canto e dança, que aos olhos dos cristãos era pecaminoso.
  Em alguns estudos, é possível constatar as raízes do carnaval em alguma orgia primitiva, que acontecia para festejar a chegada da Primavera. Outros autores postulavam que a festa teria se originado no Egito a 2 mil anos a.C., com os cultos a deusas, como ocorria com Ísis.
  Pesquisando sobre povos orientais, podemos apontar a anulação temporária das convenções sociais e das distinções que organizavam seu mundo. Entre os babilônicos havia a organização das festas anuais de verão, conhecidas como Saceias. No conjunto, tal festividade era orientada pela inversão completa das hierarquias sociais. Ao longo de um período de cinco dias, os servos poderiam incorporar os gestos e comportamentos de seus superiores.
   Outra instigante manifestação organizada durante a Saceia envolvia a escolha de algum prisioneiro para ocupar  o lugar da autoridade real. Nesse curto período, o reles detento poderia vestir as roupas do rei, comer em sua mesa e até despojar as mulheres do mesmo. Após a experiência do regalo e alegria, o pobre coitado era submetido a chicotadas e depois morto  por algum cruel ritual de execução. Tragicamente, a inversão da realidade chegava ao seu fim. Nos carnavais modernos, o rei Momo não morre ao final dos festejos...
    Os assírios também realizavam outra celebração bem próxima de algumas ações comumente observadas no carnaval de rua contemporâneo. No mês de março, os integrantes dessa poderosa civilização organizavam uma festa em tributo à deusa Ísis, divindade de origem egípcia responsável pela proteção dos navegantes. Os seus participantes costumavam utilizar máscaras durante uma procissão em que o carro transportava uma embarcação a ser oferecida para a deusa. ( Lembra algo?)
    No início da Era Cristã, a Igreja deu nova orientação a essas festividades, punindo severamente  os abusos. Entretanto, se o Catolicismo não adotou o carnaval, suportou-o com certa tolerância, já que a fixação do período de Momo gira em torno de datas predeterminadas pela própria Igreja. Tudo indica que nesse período se deu a anexação ao calendário religioso, pois o carnaval antecede a quaresma. É uma festa de características pagãs que termina em penitência, na dor de quarta-feira de Cinzas.
  Originalmente os cristãos comemoravam as comemorações do carnaval em 25 de dezembro, compreendendo os festejos de Natal e Ano Novo e de Reis, onde predominavam jogos e disfarces. Na Gália, tanto foram os excessos que Roma o proibiu por tempo. O papa Paulo II, no século XV, foi um dos mais tolerantes, permitindo que se realizassem comemorações na Via Lacta, rua próxima ao seu palácio. Já no carnaval romano, viam-se corridas de cavalo, desfile de carros alegóricos, brigas de confetes, corridas de corcundas, lançamentos de ovos e outros divertimentos.
  Em 1545, durante o Concílio de Trento, o carnaval voltou a ser uma festa popular. O baile de máscaras, introduzido pelo papa Paulo II, adquiriu força nos séculos XV e XVI, por influência da Commedia dell'Arte. Eram sucesso na Corte de Carlos VI. Ironicamente, esse rei foi assassinado numa dessas festas fantasiado de urso. As máscaras também eram confeccionadas para as festas religiosas como a Epifania ( Dias dos Reis). Em Veneza e Florença, no século XVIII, as damas elegantes da nobreza utilizavam-na como instrumento de sedução. Tais tradições momescas ainda mantêm-se vivas em algumas cidades europeias, como Nice,Veneza, e Munique.



                              O "Espírito Dionisíaco" e o Carnaval:

Apolo e Dionísio, divindades da mitologia grega. Da tensão conflitante das forças apolíneas e dionisíacas em cada uma nasce a Cultura dos povos. 

    O filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900) analisou em sua obra O nascimento da tragédia no espírito da música (1871) os dois "espíritos" que estariam na base de nossa civilização. Um é  um espírito apolíneo, que e refere, na mitologia grega, a Apolo, deus da luz, da razão e da Ciência. A sua beleza nasce justamente de ordem e da harmonia, do equilíbrio, fruto do reino da Lógica e da Matemática. Seu alvo é o saber correto, a sabedoria, a justiça, o mundo das ideias claras e distintas, perfeitas, ou das leis universais que regem o universo. É o que buscavam os filósofos gregos desde o princípio e ainda é o ideal da Ciência de da Filosofia. Todavia, esse espírito do claro e distinto pode levar o homem à escravidão da razão técnica e à loucura de uma lógica que mata a vida.
   Há, no entanto, outro espírito que rege os destinos humanos, representado na mitologia por Dionísio (Grécia) ou Baco (Roma), deus do vinho, da festa, da alegria, da paixão e da tragédia, do imponderável. "Não e deixa domesticar. Vigoroso, atirado, amante da vida e dos prazeres. Não é o deus da decadência, mas da força. Não é aliado do espírito vingativo, mas criativo .....Aniversário do sonambulismo e da doença. Um clarão de alegria no semblante dilacerado do mundo destroçado pelo achatamento do homem. Dança, movimento, companheirismo. Força criativa e inventiva. Está a cata do adverso e do diferente, do único e não do uno. Por isso, mata o dogma, a verdade eterna. Despreza o acontecimento sem história, sem calor, sem cor....Dionísio ama a sabedoria sem repouso,a ação constante em busca do melhor, do mais desejado, do mais amado"(Neidson Rodrigues, Filosofia para não filósofos)
  Esses dois "espíritos" não estão separados como duas forças isoladas e estaques dentro do ser humano, mas formam a própria natureza e cultura humanas, numa relação dinâmica, conflitante, complementar, dialética. Da tensão entre esses dois espíritos é o que se desenvolve toda a vida e a cultura dos povos. Quando uma dessas forças sufoca e quer eliminar a outra, a sociedade entra num perigoso processo de autodestruição ou estagnação.
   Segundo Nietzsche, o povo grego desenvolveu toda a riqueza de sua civilização enquanto manteve Apolo e Dionísio no equilíbrio criativo, enquanto soube articular a razão, Ciência e Lógica com a tragédia, música e dança expressas nas tragédias gregas. Quando essa tensão foi rompida, a civilização helênica ruiu. Assim acontece com todas civilizações.
  As festas carnavalescas seriam a manifestação do espírito dionisíaco dentro das culturas, representado pelo deus do vinho, pela festa, pela dança, pelas orgias dos rituais permitidos nas  diferentes sociedades. Aqui estaria uma das forças do carnaval brasileiro, tão criativo, festivo, alegre, dançante, musical e colorido. Este carnaval seria a própria manifestação da formação multirracial e multicultural do nosso povo, mistura antropofágica de tantos e diferentes povos culturais. Será?

Fonte: Filosofia Ciência e Vida




                                             Carnavalizar é preciso:

                                                                                                                                    Por mim mesma


       Não sou uma amante do samba, nem adepta do carnaval, mas reconheço sua significância para o povo brasileiro. 
   Carnavalizar é preciso. Até aqueles que são anti- samba por motivos religiosos se beneficiam dos dia de folia para viajar ou descansar.
   Mesmo existindo uma espécie de divisão entre carnaval e algumas religiões (principalmente as denominações cristãs). Pude observar que muitos desfiles de Escolas de Samba do grupo A, apresentaram em seu enredo temas ligados à criação do mundo ou a própria religiosidade em si.
   A uma das Escolas que tem como o tema de seus enredos a transcendência, a Mocidade Independente de Padre Miguel levou em 1995 para a avenida o enredo com o nome do padroeiro da agremiação, que contava como se desenvolveu a religiosidade brasileira através das misturas de raças e com uma profecia sobre a capital do país.
  Em 1991 a Escola foi campeã com enredo sobre a água que mostrou  o mundo pelas águas de Iemanjá, Oxalá e Oxum. No ano passado, a Acadêmicos do Salgueiro trouxe o enredo sobre Gaia e a criação do mundo abrangendo a visão de diferentes crenças religiosas. A União da Ilha do Governador  no ano 1978, trouxe o enredo O amanhã que ficou muito famoso anos depois na voz de Simone ( A cigana leu o meu destino/Eu sonhei/O que será o amanhã/Como vai ser o meu destino?). 
Em 1989, a Escola trouxe Festa Profana que contava a origem da maior festa popular mundial e suas origens no paganismo ( Eh! Boi Apis/ Lá no Egito, festa de Ísis/Eh! deus Baco, bebe sem mágoa/É primavera!/Na lei de Roma, a alegria que impera/Oh, que beleza! /Máscara Negra no baile de Veneza)   


  
Desfile da União da Ilha em 1989












Desfile da Mocidade 1995 -Padre Miguel

  


                                             Desfile da Mocidade 1996 -Criador e Criatura



                                                 
                                                 União da Ilha 1989 - Festa Profana                                                





                                 Desfile do Salgueiro 2014- Gaia, a vida em nossas mãos.